O testemunho do exílio em Comissão das lágrimas, de António Lobo Antunes


Abstract


No romance Comissão das lágrimas, de Lobo Antunes, a personagem Cristina, uma mulher angolana, aos quarenta e tantos anos, encontra-se em uma clínica em Lisboa a escrever, a falar, a lembrar os horrores da Comissão das lágrimas, nome que se deu ao massacre dos dissidentes do regime de Agostinho Neto em Angola entre 1977 e 1979. O leitor de Comissão das lágrimas percebe que a voz de Cristina é desdobrável, na verdade são múltiplas vozes (ao mesmo tempo uma só) que vão construindo o relato, de maneira fragmentada, embaraçada, descontínua. Este texto tem por objetivo refletir sobre o testemunho, sua eficácia, sua constituição, e como ele se processa na narrativa de ficção, estabelecendo um diálogo entre o romance de Lobo Antunes e textos de Maurice Blanchot, Jacques Rancière, Didi-Huberman e Giorgio Agamben, e tentando articular respostas para as questões que se seguem. É possível representar o irrepresentável, se é que ele existe? É possível testemunhar? Como e em que condições pode um texto literário servir de testemunho e representação do horror? A hipótese este texto é que, em que pese toda a precariedade da linguagem, o testemunho se manifestará como um ressoar do evento, uma vibração que o mantém distante da literatura, mas que confere ao inimaginável o estatuto de hiperimaginável.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p1353

Keywords: testemunho; ficção; literatura contemporânea

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