Discursos contra-hegemônicos em A varanda do frangipani, de Mia Couto: apropriações de estratégias de construção narrativa em favor do real animismo africano


Abstract


Mia Couto, em A varanda do frangipani, apresenta, como mundo possível narrativo, a velha fortaleza de São Nicolau, importante entreposto no período colonial que, com o declínio do imperialismo ultramarino português, após as independências das colônias em África, acabou desprovida de suas funções. Passada a Guerra Colonial em Moçambique, a fortaleza foi transformada em asilo para idosos. Durante os embates civis que assolaram o país, no período da Guerra de Desestabilização (1977 – 1992[1]), o espaço serviu, clandestinamente, de depósito de armas para grupos rivais que duelavam entre si em luta inter(i)na pela hegemonia do poder. É nesse cenário que se desenrola a história. Ermelindo Mucanca – indivíduo sem distinção na vida, sepultado sem receber os rituais necessários à cultura local –, revive, na condição de xipoco, no corpo do inspetor Izidine Naíta – nativo, retornado depois anos, que vem ao asilo investigar a morte do diretor Vasto Excelêncio, misteriosamente assassinado. Mucanga é trazido de volta à vida pela ação do halakavuma (ou pangolim), ser mágico-míticomístico, habitante das profundezas da terra, mensageiro entre mundos, que lhe dá sete dias (tempo simbólico da criação) para expiar (em sentido ambíguo) e tornar a morrer, vindo a receber as honrarias apropriadas a um herói (que ele nunca fora). Recorrendo a estratégias de construção narrativa (protocolos da ficção) comuns a literaturas da América Latina – Novo Mundo, igualmente à África –, o autor constrói um discurso contra-hegemônico inscrevível no que, apropriadamente, se pode chamar de Real Animismo Africano, em comparação com o Real(ismo) Maravilhoso ou Mágico Latinoamericano.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p3349

Keywords: Mundos Possíveis; Protocolos da Ficção; Discurso Contra-Hegemônico; Real Animismo Africano; Mia Couto

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