Como Caliban desconstruiu a fronteira de Próspero


Abstract


Nas literaturas africanas de língua portuguesa Caliban foi adquirindo contornos de um mito fundador, símbolo da libertação, escapando ao domínio de Próspero que lhe ensinou a sua língua para o escravizar. A libertação dos vínculos criados pela colonização e a busca de uma identidade matricial africana marcou os intelectuais e escritores africanos nas ex-colónias portuguesas. Embora dominando a língua do colonizador continuavam agrilhoados pelas leis e censura coloniais. Após a Guerra de 39/45, na sequência do Movimento da Negritude, Caliban vai transpondo a linha de fronteira e progride no território "inimigo": contesta a exploração económica, o racismo, a falta de liberdade. Emergem na ficção narrativa e na poesia os valores da África Negra, o orgulho da raça e da sua ancestralidade, ideias igualmente veiculadas pelos jovens ultramarinos que viviam em Portugal na Casa dos Estudantes do Império e expressas no Boletim Mensagem. Nos anos 60, em Angola Luandino Vieira publica Luuanda, onde os habitantes dos musseques de Luanda rompem a fronteira do asfalto e fazem ouvir a sua voz. Luís Bernardo Honwana dá a palavra aos camponeses das machambas moçambicanas em Nós Matámos o Cão Tinhoso. As balizas cairão com as independências, um novo ciclo inicia-se. Pouco a pouco, os temas e linguagem revelam a desconstrução da fronteira colonialista, questionando o papel do indivíduo na sociedade, clarificando a procura da identidade individual e nacional.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p2063

Keywords: língua portuguesa; Luandino Vieira, Luís Bernardo Honwana, literatura angolana; literatura moçambicana

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