Tempo, mistério e linguagem: a representação na História do Futuro do Padre Antônio Vieira


Abstract


Antônio Vieira (1608-1697) é considerado um dos maiores autores da língua portuguesa. A quantidade surpreendente de escritos que produziu é proporcional à riqueza de temas que tratou de modo retoricamente exemplar. No entanto, a apreciação positiva desse gigantesco legado não foi sempre unânime – e mesmo hoje não o é, sobretudo quando são considerados os diversos gêneros utilizados pelo jesuíta. O confronto dos diferentes juízos e seus critérios revela que as principais divergências têm origem não no gosto, mas na própria concepção de linguagem que estrutura aqueles textos: se a língua portuguesa se faz reconhecer no primor das palavras de Vieira, a concepção de linguagem que as estrutura revela uma descontinuidade profunda. É essa descontinuidade que motiva o exame atento dos fundamentos da linguagem e da representação encontrados num texto particularmente problemático: a História do Futuro. Seguindo os estudos pioneiros sobre as práticas de representação colonial de João Adolfo Hansen (1989, 2013) e Alcir Pécora (1994), coloco sob exame o modo pelo qual Vieira articula os conceitos de palavra e de discurso em relação à sua concepção de história, buscando compreender o ordenamento de sentido de palavras e de eventos a partir de uma perspectiva temporal particular – a escatologia cristã – em uma construção essencialmente imagética. Os escritos de Antônio Vieira revelam todo um arcabouço conceitual que sustenta tanto a agudeza de sua forma quanto uma concepção retórica e teológica da própria linguagem e da representação de um modo geral. Compreender essa arquitetura de sentido é o passo necessário a qualquer leitura que procure dar conta das obras de Vieira de uma perspectiva historicamente informada.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p1693

Keywords: Antônio Vieira; Retórica; Linguagem; História; Teologia política

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